domingo, 26 de julho de 2015

"Mudaram as estações, nada mudou. Mas eu sei que alguma coisa aconteceu..."

Naquele corredor do hospital, na ala leste, perto da porta de acesso da UTI, eu estava suando frio, com o coração quase saindo pela boca. Faltavam cinco minutos para a entrada dos visitantes, a enfermeira nos chamou para colocar os equipamentos de visitação (touca, luvas, avental, proteção nos pés e máscara). OK, tudo pronto, vamos lá. Engolir o choro, estampar um sorriso no rosto e fingir não ter preocupações. Tudo certo, contagem regressiva. Um minuto... Começar a oração, acalmar o coração... Sim, vai dar tudo certo.  Autorizada à entrada! A partir de agora serão cinco minutos antes de dizer tchau, até a próxima.

Então eu a vi naquela cama, quando percebeu minha presença ali, começou um choro que, partiria o coração de qualquer um ao ver a cena, ela quase sem forças sussurrou: “Estou com medo...”. Então eu perguntei o motivo do medo e a resposta que eu obtive não foram palavras, mas sim lágrimas contínuas com tendência a só aumentar. Naquele momento eu me senti tão inútil e tão pequena...
Minha menina ali chorando e eu sem poder fazer nada mais além de, para ela sorrir e mesmo estando com lágrimas nos olhos, dizer que tudo iria ficar bem. Ela me fez prometer que sim, eu prometi. Mesmo sabendo que ás vezes, as vontades de Deus, não irão deixar todos felizes.

Meus cinco minutos acabaram, tchau linda, prometo que vou voltar. Saio da sala, viro o corredor, como se todo o peso e dores do mundo estivessem dentro de mim, começo a chorar e sem perceber um grito ensurdecedor sai de dentro do meu coração. Meu pai está logo atrás de mim e antes de eu tocar o chão ele me segura. Nessas horas um abraço te passa toda a segurança que o mundo te tirou, isso é verdade.

Nas semanas que se seguiram, o quadro dela tinha mudanças drásticas, de melhoras extremas a pioras quase fatais. Além da fratura da perna, por conta do “acidente”, complicações no aparelho respiratório eram frequentes. Água nos pulmões, coração quase parando de bater. E eu no corredor chorando lágrimas suficientes para encher o Rio Ganges duas vezes.

Todos ao meu redor diziam que nunca me viram tão mal, o medo transbordava dos meus olhos e coração, eu chorava, chorava porque não conseguia me imaginar vivendo num mundo que ela não existisse mais. Eu sempre lutei por mim e por ela. Perdi a conta de quantas vezes deixei meu mundo cair em ruínas, para ajudar a reerguer o mundo dela, e nunca me arrependerei. Ela fez parte de mim, talvez hoje já não faça mais, mas isso não importa tanto. Tudo que estava ao meu alcance, eu fiz por ela.

As pessoas tem tendência a ignorar outras quando não precisam mais delas. Tudo o que eu passei naquela época, sinceramente me fizeram ser um pouco mais forte. Com certeza agora eu tenho um coração, mais ou menos, bom. Dizem que é importante dar tudo de si para alguém sem esperar algo em troca. Eu realmente fiz isso, embora depois, ela tenha me dado mil motivos para odiar ela e me arrepender de tudo que eu fiz por ela, de todos os planos que eu adiei e todas as oportunidades que eu perdi por conta do “acidente” dela, ainda mantenho minha escolha, no fim o que sempre importou foi saber que ela está bem e feliz, vivendo a vida dela, e trilhando caminhos certos. 

Quem se importa com belas memórias do passado, se o céu voltou a sorrir, e o presente é tão intenso e cheio de cores?

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